terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Entomologia Forense - Parte II

Determinação do Intervalo Post Mortem

O principal uso da Entomologia diz respeito à determinação de quando ocorreu o crime. Podem ser usados dois métodos:


usando a sucessão entomológica
usando a idade e o desenvolvimento das larvas.

O primeiro método é usado quando o cadáver encontrado parecer estar morto há mais de um mês; o segundo método é usado quando morte aconteceu há menos de um mês.
O primeiro método está baseado no facto de que um corpo humano, ou qualquer tipo de carne putrefacta, apresenta um tempo de decomposição, variável de região para região. Durante esta decomposição, o cadáver atravessa mudanças físicas, biológicas e químicas, e fases diferentes de decomposição do cadáver são atractivas a espécies diferentes de insectos. Muitas espécies estão envolvidas em fases particulares de decomposição. Então, com um conhecimento da fauna de insectos regionais e tempos de colonização de carne putrefacta, um conjunto de insectos associado com os restos pode ser analisado e assim é determinada uma janela de tempo na qual a morte ocorreu. É requerido um conhecimento prévio da sucessão de insectos, naquela região geográfica específica, para este método ter êxito.


No segundo método usa-se a idade e o nível de desenvolvimento das larvas ou fases imaturas da varejeira (família Calliphoridae) para determinar a data de morte. Estas moscas depositam os ovos no cadáver, normalmente numa ferida, ou então em qualquer dos orifícios naturais (ex.: olhos, nariz, boca, ouvidos) ou noutros locais escuros e húmidos, tais como dobras de roupa ou simplesmente debaixo do corpo. O desenvolvimento delas segue um ciclo, um jogo previsível, sendo, consequentemente uma questão fácil determinar quando ocorreu a morte



Ciclo de vida de uma varejeira Calliphorídea
(no sentido horário, da esquerda em baixo):
adultos, ovos, larvas de primeiro estádio,
larvas de segundo estádio, larvas de terceiro
estádio, pupários contendo pupas






As perguntas que um entomologista forense deve responder, assim que chega ao cadáver:


Que espécies de varejeira estão presentes no corpo? Os espécimes recolhidos têm de estar correctamente identificados, para que possa ser utilizada toda a informação relevante acerca da fisiologia, comportamento e ecologia da espécie. A resposta a esta questão é dada pela taxonomia.

Quais os mais velhos espécimes de varejeira? Podem ainda estar a alimentar-se no corpo; podem ter deixado o cadáver para se transformar em pupa noutro local; ou podem já ter emergido como adultos, deixando para trás as cápsulas de pupário vazias.

Qual a idade dos espécimes mais velhos? A estimativa da idade envolve estudos morfológicos detalhados recorrendo a um microscópio binocular, para determinar o seu estado de desenvolvimento e para o comparar com dados standard relacionando estado de desenvolvimento e idade a diferentes temperaturas.

Quais eram as temperaturas-ambiente no local quando as moscas se estavam a desenvolver no cadáver? Coloca-se um registador electrónico de temperatura no local do crime durante sete a dez dias, e comparam-se as leituras com dados da estação meteorológica local para o mesmo período. Esta comparação pode ser utilizada, juntamente com os dados da estação meteorológica para o período anterior à descoberta do corpo, para estimar as temperaturas no local do crime durante esse período. Assim, determina-se a temperatura a que as larvas se desenvolveram.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Entomologia Forense - Parte I



A Entomologia Forense é o estudo dos insectos, associados à decomposição de um cadáver humano com a finalidade de, para efeitos legais, se determinar a data de morte, e, se possível, deduzir as circunstâncias em que ocorreu a morte ou as que se seguiram depois desta. Esta ciência é utilizada com um tempo de morte superior a 3 dias, visto que em tempos inferiores, existem outros métodos forenses igualmente precisos. Porém, após três dias, as evidências fornecidas pelos insectos são frequentemente mais valiosas, e às vezes, o único método de se determinar o PMI (intervalo post mortem). É dos parâmetros que os médicos forenses mais dificuldade sentem em calcular e para que os insectos são fantásticos indicadores. A Entomologia também presta serviço em resolver questões como local e causa de morte, origem de substâncias ilícitas (em particular, cannabis) e maus tratos a crianças ou bebés.

Actualmente, esta actividade não só é reconhecida pela ciência, como tem sido empregada, sobretudo nos países desenvolvidos, como um importante recurso das ciências forenses.
Os primeiros relatos do uso da Entomologia Forense datam do Século XIII, na China, sendo esporadicamente usada no século XIX e no início do século XX. Em tempos mais recentes, a Entomologia Forense tomou novo fôlego e a sua aplicação é cada vez mais comum.


1. Intervalo post mortem (PMI)

Na medicina legal uma das questões mais críticas reside na questão "Quando é que a morte ocorreu?" A determinação do intervalo post mortem é, frequentemente dada por patologistas e antropólogos forenses e, raramente um entomólogo é consultado. Normalmente, nos métodos tradicionais, o PMI e a sua estimativa são inversamente proporcionais, isto é, quanto maior for o PMI, menor é a possibilidade de uma determinação exacta. Porém, com auxílio de conhecimentos entomológicos, quanto maior o intervalo mais segura é a estimativa.

2. Causa da morte

Drogas e tóxicos presentes nos corpos afetam a velocidade do desenvolvimento de insectos necrófagos. Cocaína, heroína, metanfetaminas, etc. têm mostrado efeitos no desenvolvimento das larvas e da decomposição, podendo indicar um caso de morte por ingestão de dose letal dessas. Pela voracidade das larvas, os fluidos do corpo e partes macias necessárias para as análises toxicológicas desaparecem, sendo então, necessário identificar esses medicamentos e substâncias tóxicas no corpo de larvas de insectos necrófagos que se alimentaram desses cadáveres contaminados.

3. Local da morte

Baseado na distribuição geográfica, habitat natural e biologia das espécies recolhidas na cena da morte, é possível determinar o local onde a morte ocorreu. Por exemplo, certas espécies de dípteros da família Calliphoridae são encontradas em centros urbanos. A associação dessas espécies em corpos encontrados em meio rural sugere que as vítimas foram mortas no meio urbano e levadas para o ponto onde foram encontradas. Da mesma forma, algumas moscas apresentam habitat específico, além de distinta preferência em realizar postura em ambientes internos ou externos, e até mesmo, em diferentes condições de sombra e luz.

4. Origem de Substâncias Ilícitas

Pode-se identificar a origem da Cannabis sativa, com base na identificação dos insectos que acompanham a droga, (presos durante a prensagem), sendo então possível traçar a rota de tráfico através da distribuição geográfica dos insectos.



5. Maus tratos

A ciência pode, ainda, ser utilizada em casos de maus tratos a crianças. É possível precisar o número de dias, durante os quais, o bebé ou criança foi privado de cuidados de higiene.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Como é quase Natal,aqui damos uma ajuda para responderem à questão. Boas Festas :)

Resultados da sondagem nº3

Questão colocada: Qual a componente da medicina legal que trata dos fenómenos cadavéricos e factores a eles associados?

As respostas foram:
Tanatologia 19 votos (49%)
Traumatologia 3 votos (8%)
Entomologia 10 votos (25%)
Vitimologia 7 votos (18%)



Mais uma vez,a reposta correcta foi a mais votada: tanatologia.

A tanatologia é a componente da medicina legal que está ligada aos fenómenos da morte interessando-lhe o estudo minucioso do cadáver.


Porém, alguns cibernautas escolheram as outras opções.Como tal, aqui apresentamos uma pequena definição das restantes ciências:
Traumatologia forense é a ciência que inclui o estudo das lesões e suas causas.
Entomologia forense é a ciência que, partindo dos insectos colonizadores do cadáver, permite aos entomólogos identificar as causas da morte de seres humanos.
Vitimologia é a ciência que estuda a participação da vítima nos crimes.



Muitos parabéns a quem acertou, e quem não acertou, fica para a próxima!
Por isso ja sabem, não desconectem!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Anatomia Patológica Forense - parte II

Exames e perícias no âmbito da anatomia patológica forense:

1-Exames de histologia normal (biopsia/peça);
2-Exame de citologia normal (Papanicolau, urina, LCR, punção aspirativa, líquido pericárdico, líquido pleural, etc);
3-Exame ultra-estrutural (microscopia electrónica);
4- Estudo imuno-histocitoquímico;
5-Técnicas especiais;
6-Exame histológico extemporâneo (embolia gorda);
7-Consulta com revisão de registos ou repetição de estudos em material enviado a outro serviço ou laboratório com elaboração de relatório final.



Para a realização da maior parte destes exames e perícias que estão a cargo dos patologistas, é necessário recorrer-se à histologia, histopatologia, citopatologia e à citologia.
Para além disso, a intervenção dos patologistas pode estender-se a outras áreas mais específicas:


Biologia molecular - estes técnicos estudam o núcleo das células com vista a, por exemplo, averiguar anomalias do feto (diagnóstico pré-natal), detectar e quantificar cargas virais (como a hepatite B), ou estudar patologias tumurais (sobretudo o cancro);
Toxicologia forense - procede-se ao estudo de tecidos de cadáveres, para averiguar, por exemplo, se houve a ingestão de produtos químicos na hipótese de um envenenamento;
Imunocitoquímica - determinar num tumor maligno, por exemplo,qual o seu tipo, grau de evolução e de gravidade, pois deste conhecimento depende o prognóstico da doença e a terapêutica a administrar;
Veterinário - por exemplo, um médico veterinário pode recorrer à ajuda destes profissionais, caso se depare com um cão portador de uma doença que não consegue identificar.
Anatomia - que é o estudo macroscópico dos orgãos;
Morfologia - que estuda a forma dos organismos.




Quando uma amostra ou espécime chega a um laboratório de anatomia patológica,acompanhada da requisição devidamente preenchida, inicia-se uma série complexa deacontecimentos que vão culminar na emissão de um relatório final, o relatório anatomopatológico.





Este relatório é geralmente composto por cinco grandes campos:

História pregressa - contém os dados clínicos essencias (espécie, sexo, idade, raça,etc);
Exame macroscopico - contém a descrição do(s) espécime(s);
Exame microscópico;
Diagnóstico;
Notas ou comentários onde o anatomopatologista pode mencionar os diagnósticos diferenciais.

Verifica-se que em Portugal existe um grande número de laboratórios que, realizam exames e perícias no âmbito de anatomia patológica e, consequentemente de anatomia patológica forense. É positivo constatar que no nosso país, existam movimentos e associações de patologistas e técnicos de anatomia patológica para promoverem o desenvolvimento desta área.